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Exposição


A exposição Além da Ataxia, de Pollyana Silveira, apresenta quatro séries de fotografias produzidas pela artista nos últimos anos, entre as quais, O Tempo e a Ataxia, A culpa é minha?, Ampulheta e À Espera. Esse conjunto é composto por autorretratos que revelam como a fotógrafa vivencia e assimila os efeitos da Ataxia de Friedreich em seu corpo e, em especial, o modo como ressignifica essa condição ao mobilizar a sua própria imagem por meio de uma abordagem poética. O autorretrato desempenha um papel importante na história da arte contemporânea, sobretudo nas interlocuções entre arte e feminismo, ao devolver à mulher a condição de sujeito e não mero objeto, convertendo, portanto, as políticas de autoria e autoridade. Apoiando-se nesse legado, a construção de uma nova sensibilidade por meio de autorretratos de pessoas com deficiência não é apenas uma forma de emancipação, mas uma recusa radical dos princípios do mercado que descartam tudo aquilo que não é considerado produtivo. Nesse viés, as quatro séries de Pollyana Silveira descortinam as estratégias criadas para burlar o lugar social construído no imaginário comum sobre os corpos que fogem à norma, devolvendo a humanidade que lhes foi retirada. As fotografias que integram a mostra Além da Ataxia também contribuem para alterar os lugares de subordinação e patologização que a sociedade frequentemente endereça às mulheres com deficiência, recriando outros mundos possíveis onde esses corpos são plenos para gozar de autonomia e liberdade inventiva.
Em suma, essas obras evidenciam como a linguagem da arte pode tornar-se um antídoto contra qualquer forma de capacitismo. Os registros em preto e branco que ocupam uma parte do pátio central do Centro Cultural Renato Russo traduzem as múltiplas formas de reelaboração desse diagnóstico que afeta todo o sistema nervoso e gera sintomas com os quais a fotógrafa tem convivido desde os quinze anos. A configuração da exposição foi pensada para privilegiar os espaços vazios do pátio central do Centro Cultural, permitindo a livre circulação das pessoas, como contraponto à hostilidade imposta pelas barreiras arquitetônicas que impossibilitam o ir e vir de pessoas com deficiência, retirando-lhes o direito à cidadania plena. O diálogo entre os espaços interno e externo é acompanhado por uma parceria entre a autora e o Coletivo Transverso, grupo interdisciplinar que realiza intervenções urbanas, por meio de lambe-lambes em tamanho real de outras mulheres com deficiência nos arredores das vias W2 e W3 sul. Todas as imagens expostas são acompanhadas de audiodescrições facilmente obtidas em códigos QR instalados próximos às obras, garantindo igualdade de acesso.
Luiza Mader

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